SIMÕES DE ALMEIDA (TIO) . 1844 - 1926
JOSÉ SIMÕES DE ALMEIDA JÚNIOR, escultor português conhecido artisticamente por Simões de Almeida (tio) para o distinguir do seu sobrinho homónimo, também escultor, nasceu na vila de Figueiró dos Vinhos, a 24 de Abril de 1844.
Seu pai, e já seu avô, eram fundidores na Fábrica Real do Ferro na Foz de Alge, subúrbios da vila de Figueiró dos Vinhos, que fechou por questões políticas por volta de 1847.
Seu pai foi colocado em Lisboa na oficina de fundição de ferro do Arsenal da Marinha, como chefe, sendo seu filho também ali colocado, apenas com 12 anos de idade, em 1855, como aprendiz, transitando no ano seguinte para a secção de entalhadores, onde lhe são detectadas grandes aptidões para o trabalho manual, pelo que o seu Director, o Capitão de Mar e Guerra, Francisco Gonçalves Cardoso, reparando nas suas excepcionais qualidades, o incentivou, concedendo-lhe licença para frequentar a cadeira de desenho na Academia Real de Belas Artes de Lisboa.
Em 1860 matriculou-se na cadeira de escultura na mesma Academia, onde teve como Mestres Francisco de Assis Rodrigues e António Vítor Bastos, dois dos nomes incontornáveis da escultura portuguesa do século XIX. Frequentou ainda a Aula de Desenho Histórico e Ornamentos e de Modelo vivo, tendo trabalhado na modelação de ornamentos e de estátuas antigas.
Concluiu o curso com 21 anos em 1865, com elevada classificação, o que lhe permitiu receber do Governo uma bolsa de estudo, tornando-se no primeiro aluno de escultura a receber uma bolsa para estudar no estrangeiro.
Desejoso de aprofundar as técnicas da escultura deslocou-se para Paris (França), onde frequentou a Escola Imperial de Belas Artes e as lições do professor François Jouffroy (1806-1882), considerado um escultor oficial. Foi nessa instituição onde Simões se distinguiu, sendo convidado pelo escultor António Mercié a colaborar no grupo Gloria Victis (Glória dos Vencidos), num conjunto monumental que ornamenta a Câmara de Paris. Além desse trabalho, executou na capital francesa a escultura denominada Jovem Grego.
De tal maneira se notabilizou nos estudos realizados, que lhe foram atribuídas cinco medalhas de prata, uma menção honrosa e um prémio pecuniário de duzentos francos atribuídos por ocasião das exposições escolares de 1868 e 1869.
Regressou a Portugal no ano de 1870, e partindo novamente para o estrangeiro a 30 de Outubro do mesmo ano, para a cidade de Génova, na Itália, onde por intermédio de Alfredo de Andrade, distinto arquitecto português radicado em Itália, que alcançou grande reputação na sua arte, o apresentou ao célebre escultor italiano Giulio Monteverde (1837-1917), com o qual trabalhou em diversas obras.
Depois, em Roma, em colaboração com colegas de Paris, instalou uma oficina e executou as estátuas Desfolhando Malmequeres e Órfão, trabalhos extraordinários presentes no Museu de Arte Contemporânea Lisboa. Aproveitou a estadia em Roma para se aperfeiçoar na gravura de camafeus. Juntou-se a outro pensionista português, o escultor Soares dos Reis, que foi seu companheiro.
Regressou a Lisboa a 21 de Fevereiro de 1872 (depois de ter visitado Pisa, Milão, Florença, Veneza, Marselha e Madrid), teve uma vida um pouco difícil, esculpindo apenas uma estátua para um cemitério e alguns camafeus, que deixou de fazer por não terem sido apreciados. Apesar de tudo montou atelier na Rua do Duque de Bragança.
Foi agraciado com a terceira medalha da Exposição Universal de Paris de 1878 com a peça Puberdade. Ramalho Ortigão, em 1906, referia a importância deste escultor no ensino do Desenho na Academia e depois na Esbal.
Em 1890, na Exposição do Rio de Janeiro, obtém novo prémio com o gesso Safo.
Pelo decreto de 23 de Junho de 1881 é nomeado, por dois anos, para a regência de 2.ª (Desenho do Antigo). Confirmado no cargo pelo decreto de 20 de Setembro de 1883, regeu essa cadeira até 30 de Junho de 1896.
No ano de 1896, ascendeu à regência da 6.ª cadeira (Escultura) pelo decreto de 6 de Junho, sucedendo a Vítor Bastos, falecido em 1894.
Mais tarde foi professor da 9.ª cadeira (Escultura e Estatuária) pelo decreto de 14 de Novembro de 1901.
Pelo falecimento de António de José Nunes Júnior, pintor e professor de Gravura, foi nomeado, pelo Conselho Escolar, director interino da Escola de Belas Artes de Lisboa em 9 de Março de 1905 e confirmado nessa nomeação por despacho de 6 de Abril. Foi finalmente nomeado director pelo decreto de 5 de Julho de 1905, acumulando com as funções de professor de Escultura. Foi ainda director interino do Museu Nacional (antepassado do Museu Nacional de Arte Antiga) entre 9 de Março e 5 de Julho de 1905.
Professor de Desenho e de Escultura na Escola de Belas Artes de Lisboa durante 31 anos, Mestre Simões formou num exigente e correcto academismo várias gerações de artistas, tais como: José Simões de Almeida (sobrinho); Maximino Alves; Costa Motta e Costa Motta (sobrinho); Manuel Henrique Pinto.
Aparentemente rude nas suas expressões, era, a despeito disso, um espírito generoso e justo.
Foi Director da Escola de Belas Artes até 27 de Julho de 1912, altura em que abandonou o lugar voluntariamente, vindo a falecer em Lisboa a 13 de Dezembro de 1926, com a idade de 82 anos, na residência que tinha na Amadora, já que anteriormente vivia na freguesia dos Mártires, na cidade de Lisboa.
Tinha também casa na sua terra natal Figueiró dos Vinhos, na actual rua Comendador Joaquim de Araújo Lacerda Júnior, situada no lado de baixo do chalé O Casulo de Mestre Malhoa, de quem era íntimo amigo, e que havia comprado, por escritura de 8 de Maio de 1892, ao padre Diogo Pereira Baeta de Vasconcelos.
Seu pai, e já seu avô, eram fundidores na Fábrica Real do Ferro na Foz de Alge, subúrbios da vila de Figueiró dos Vinhos, que fechou por questões políticas por volta de 1847.
Seu pai foi colocado em Lisboa na oficina de fundição de ferro do Arsenal da Marinha, como chefe, sendo seu filho também ali colocado, apenas com 12 anos de idade, em 1855, como aprendiz, transitando no ano seguinte para a secção de entalhadores, onde lhe são detectadas grandes aptidões para o trabalho manual, pelo que o seu Director, o Capitão de Mar e Guerra, Francisco Gonçalves Cardoso, reparando nas suas excepcionais qualidades, o incentivou, concedendo-lhe licença para frequentar a cadeira de desenho na Academia Real de Belas Artes de Lisboa.
Em 1860 matriculou-se na cadeira de escultura na mesma Academia, onde teve como Mestres Francisco de Assis Rodrigues e António Vítor Bastos, dois dos nomes incontornáveis da escultura portuguesa do século XIX. Frequentou ainda a Aula de Desenho Histórico e Ornamentos e de Modelo vivo, tendo trabalhado na modelação de ornamentos e de estátuas antigas.
Concluiu o curso com 21 anos em 1865, com elevada classificação, o que lhe permitiu receber do Governo uma bolsa de estudo, tornando-se no primeiro aluno de escultura a receber uma bolsa para estudar no estrangeiro.
Desejoso de aprofundar as técnicas da escultura deslocou-se para Paris (França), onde frequentou a Escola Imperial de Belas Artes e as lições do professor François Jouffroy (1806-1882), considerado um escultor oficial. Foi nessa instituição onde Simões se distinguiu, sendo convidado pelo escultor António Mercié a colaborar no grupo Gloria Victis (Glória dos Vencidos), num conjunto monumental que ornamenta a Câmara de Paris. Além desse trabalho, executou na capital francesa a escultura denominada Jovem Grego.
De tal maneira se notabilizou nos estudos realizados, que lhe foram atribuídas cinco medalhas de prata, uma menção honrosa e um prémio pecuniário de duzentos francos atribuídos por ocasião das exposições escolares de 1868 e 1869.
Regressou a Portugal no ano de 1870, e partindo novamente para o estrangeiro a 30 de Outubro do mesmo ano, para a cidade de Génova, na Itália, onde por intermédio de Alfredo de Andrade, distinto arquitecto português radicado em Itália, que alcançou grande reputação na sua arte, o apresentou ao célebre escultor italiano Giulio Monteverde (1837-1917), com o qual trabalhou em diversas obras.
Depois, em Roma, em colaboração com colegas de Paris, instalou uma oficina e executou as estátuas Desfolhando Malmequeres e Órfão, trabalhos extraordinários presentes no Museu de Arte Contemporânea Lisboa. Aproveitou a estadia em Roma para se aperfeiçoar na gravura de camafeus. Juntou-se a outro pensionista português, o escultor Soares dos Reis, que foi seu companheiro.
Regressou a Lisboa a 21 de Fevereiro de 1872 (depois de ter visitado Pisa, Milão, Florença, Veneza, Marselha e Madrid), teve uma vida um pouco difícil, esculpindo apenas uma estátua para um cemitério e alguns camafeus, que deixou de fazer por não terem sido apreciados. Apesar de tudo montou atelier na Rua do Duque de Bragança.
Foi agraciado com a terceira medalha da Exposição Universal de Paris de 1878 com a peça Puberdade. Ramalho Ortigão, em 1906, referia a importância deste escultor no ensino do Desenho na Academia e depois na Esbal.
Em 1890, na Exposição do Rio de Janeiro, obtém novo prémio com o gesso Safo.
Pelo decreto de 23 de Junho de 1881 é nomeado, por dois anos, para a regência de 2.ª (Desenho do Antigo). Confirmado no cargo pelo decreto de 20 de Setembro de 1883, regeu essa cadeira até 30 de Junho de 1896.
No ano de 1896, ascendeu à regência da 6.ª cadeira (Escultura) pelo decreto de 6 de Junho, sucedendo a Vítor Bastos, falecido em 1894.
Mais tarde foi professor da 9.ª cadeira (Escultura e Estatuária) pelo decreto de 14 de Novembro de 1901.
Pelo falecimento de António de José Nunes Júnior, pintor e professor de Gravura, foi nomeado, pelo Conselho Escolar, director interino da Escola de Belas Artes de Lisboa em 9 de Março de 1905 e confirmado nessa nomeação por despacho de 6 de Abril. Foi finalmente nomeado director pelo decreto de 5 de Julho de 1905, acumulando com as funções de professor de Escultura. Foi ainda director interino do Museu Nacional (antepassado do Museu Nacional de Arte Antiga) entre 9 de Março e 5 de Julho de 1905.
Professor de Desenho e de Escultura na Escola de Belas Artes de Lisboa durante 31 anos, Mestre Simões formou num exigente e correcto academismo várias gerações de artistas, tais como: José Simões de Almeida (sobrinho); Maximino Alves; Costa Motta e Costa Motta (sobrinho); Manuel Henrique Pinto.
Aparentemente rude nas suas expressões, era, a despeito disso, um espírito generoso e justo.
Foi Director da Escola de Belas Artes até 27 de Julho de 1912, altura em que abandonou o lugar voluntariamente, vindo a falecer em Lisboa a 13 de Dezembro de 1926, com a idade de 82 anos, na residência que tinha na Amadora, já que anteriormente vivia na freguesia dos Mártires, na cidade de Lisboa.
Tinha também casa na sua terra natal Figueiró dos Vinhos, na actual rua Comendador Joaquim de Araújo Lacerda Júnior, situada no lado de baixo do chalé O Casulo de Mestre Malhoa, de quem era íntimo amigo, e que havia comprado, por escritura de 8 de Maio de 1892, ao padre Diogo Pereira Baeta de Vasconcelos.
Referências:
Figueiró dos Vinhos Terra de Sonho, p. 142 a 144. (Enviado por Henrique Dias)
Jornal de Figueiró dos Vinhos, nº 44, 1985.
Figueiró dos Vinhos Terra de Sonho, p. 142 a 144. (Enviado por Henrique Dias)
Jornal de Figueiró dos Vinhos, nº 44, 1985.
Livro de Registos de Passaportes Portugueses
17 de Junho de 1866
Destino: França
Destino: França
17 de Outubro de 1870
Destino: Itália
Destino: Itália
12 de Maio de 1887
Destino: Europa
Destino: Europa
Aula de escultura - Prof., José Simões de Almeida Júnior
Notas sobre Portugal, 1908, p. 591.
Simões de Almeida (tio), Manuel Henrique Pinto e José Malhôa - Figueiró dos Vinhos, 1898
Referências:
http://provocando-umateima.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html
http://provocando-umateima.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html
Figueiroenses ilustres, 1898 (Figueiró dos Vinhos, Portugal)
José Malhôa, Manuel Vasconcelos, Luis Ernesto Reynaud, Simões de Almeida, Diogo Vasconcelos, António de Azevedo Lopes Serra, Manuel Quaresma de Oliveira, Manuel Henrique Pinto.
A Regeneração, 1926
Simões de Almeida (Tio)
Em 13 do corrente, na sua casa da Amadora, faleceu, com 82 anos, o eminente escultor José Simões de Almeida, última reliquia duma geração artistica que teve como máxima expressão o glorioso Soares dos Reis.
Numa época, como a de agora, em que tantos tateiam um novo caminho para as expressões plasticas, a obra de Simões de Almeida é um grito de academicismo puro, de nobresa, de elegância e de conhecimento da sua arte. Pode-se considerar que êle não foi cinzel nervoso e com a poderosa força de dramatisação que freqüentemente atingiu a scentelha do seu companheiro Soares dos Reis; mas seria dificil abrir no marmore com maior firmesa as linhas dum rosto e apurar com mais correcção uma atitude, do que o fazia o artista que ontem morreu.
Tendo saido da Escola das Belas Artes de Lisbôa em 1865, onde recebeu, com proveito, as lições de Assis Rodrigues e Victor Bastos, foi para Paris como pensionista do Estado, obtendo, durante os cinco anos que ali permaneceu, cinco medalhas de prata, uma menção e o prémio de 200 francos, na exposição de trabalhos escolares de 1868 a 1809. Em Roma onde se demorou um ano, foi discipulo de Giulio Monteverde, regressando, depois, a Portugal e tomando logo o exercício interino da cadeira de desenho na Escola de Belas Artes. O ensino desta cadeira basilar para os artistas, recebeu de tal mestre um novo e poderoso impulso e se outro serviço o país não devesse a Simões de Almeida esse, considera-lo-iam os verdadeiros artistas de bastante valia para que a sua memória merecesse admiração e respeito.
Professor efectivo de escultura em março de 1881, mais tarde director da Escola que só há treze anos abandonou, o eminente mestre desenvolveu notaveis qualidades pedagogicas intuitivas, deixando um grupo de artistas de raro mérito, entre os quais devemos apontar Luciano Freire, Carlos Reis e Veloso Salgado.
Durante tão longa vida que o artista soube passar com a calma dum patriarca e a tranqüilidade de consciência dum homem de bem, recebeu as honras a que tinha direito pelo seu talento robusto e pela sua técnica implacável. A'parte muitos bustos que formam uma extensa galeria, em que se encontram não poucos homens ilustres de Portugal - o de Fontes Pereira de Melo, por exemplo, que está na sala do Senado da República - apontemos a estatua do Duque da Terceira, que executou em 1877, e que domina, pela nobresa e com equilibrio de proporções, a praça de Lisbôa que tem o nome dêsse chefe das campanhas liberais; apontemos «O Saltimbanco», soberba de movimento e de expressão, que foi adquirida pelo rei D. Fernando; «Saudade», que pertenceu a D. Pedro V e que hoje está no Brazil; «Judith» que se encontra no Palácio da Ajuda; a «Puberdade», soberbo estudo do nú, duma perigrina delicadeza e duma adoravel frescura; «D. Inez de Castro». «A Agricultura» e êsse «D. Sebastião lendo os Luziadas», que o Museu de Arte Contemporânea conta entre as melhores obras da sua sala de escultura. Mencionemos ainda - são sessenta e cinco anos duma prestigiosa e honrada vida artistica! - as estatuas de Pedro Alvares Cabral, Vasco da Gama, Infante D. Henrique e Camões, para a sala da biblioteca do Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro, de que a nossa Sociedade de Geografia possui replicas. São ainda do cinzel de Simões de Almeida o maravilhoso Cristo que vela agonisante, no tumulo de Alexandre Herculano, nos Jerónimos; a estatua a José Estevão, que se ergue numa praça de Aveiro; e a da Liberdade, que é um dos melhores trechos do monumento aos Restauradores. A lista é extensa demais para que possamos recordá-la; mas todas essas obras têm a aureolá-las uma admiração muito justa e muito sincera.
O último trabalho do venerando professor foi o medalhão de José Luiz Monteiro, que se encontra na Escola de Belas Artes e que atesta como as mãos do velho artista conservaram por largo tempo um vigor admiravel e o seu espírito uma frescura e uma elegancia dificeis de exceder.
Simões de Almeida, que nasceu em Figueiró dos Vinhos em 1844, era viuvo da srª D. Maria Barbara de Almeida, e tio do ilustre escultor do mesmo apelido e das sr.as D. Adelaide de Almeida Pinto, D. Amalia de Almeida da Assunção e D. Adelina de Almeida Costa.
Os seus restos jasem no cemitério de Benfica e no seu funeral, cheio de modestia e de recolhimento, incorporam-se as maiores notabilidades da Arte Portuguêsa. Pena foi que a Câmara Municipal de Lisbôa, por exemplo se não recordasse do que fazem tantas das suas congeneres estrangeiras, e se honrasse abrigando nas suas salas, por algumas horas os restos mortais de quem foi um notavel estatuario, um professor dedicadíssimo e um honesto cidadão.
Em 13 do corrente, na sua casa da Amadora, faleceu, com 82 anos, o eminente escultor José Simões de Almeida, última reliquia duma geração artistica que teve como máxima expressão o glorioso Soares dos Reis.
Numa época, como a de agora, em que tantos tateiam um novo caminho para as expressões plasticas, a obra de Simões de Almeida é um grito de academicismo puro, de nobresa, de elegância e de conhecimento da sua arte. Pode-se considerar que êle não foi cinzel nervoso e com a poderosa força de dramatisação que freqüentemente atingiu a scentelha do seu companheiro Soares dos Reis; mas seria dificil abrir no marmore com maior firmesa as linhas dum rosto e apurar com mais correcção uma atitude, do que o fazia o artista que ontem morreu.
Tendo saido da Escola das Belas Artes de Lisbôa em 1865, onde recebeu, com proveito, as lições de Assis Rodrigues e Victor Bastos, foi para Paris como pensionista do Estado, obtendo, durante os cinco anos que ali permaneceu, cinco medalhas de prata, uma menção e o prémio de 200 francos, na exposição de trabalhos escolares de 1868 a 1809. Em Roma onde se demorou um ano, foi discipulo de Giulio Monteverde, regressando, depois, a Portugal e tomando logo o exercício interino da cadeira de desenho na Escola de Belas Artes. O ensino desta cadeira basilar para os artistas, recebeu de tal mestre um novo e poderoso impulso e se outro serviço o país não devesse a Simões de Almeida esse, considera-lo-iam os verdadeiros artistas de bastante valia para que a sua memória merecesse admiração e respeito.
Professor efectivo de escultura em março de 1881, mais tarde director da Escola que só há treze anos abandonou, o eminente mestre desenvolveu notaveis qualidades pedagogicas intuitivas, deixando um grupo de artistas de raro mérito, entre os quais devemos apontar Luciano Freire, Carlos Reis e Veloso Salgado.
Durante tão longa vida que o artista soube passar com a calma dum patriarca e a tranqüilidade de consciência dum homem de bem, recebeu as honras a que tinha direito pelo seu talento robusto e pela sua técnica implacável. A'parte muitos bustos que formam uma extensa galeria, em que se encontram não poucos homens ilustres de Portugal - o de Fontes Pereira de Melo, por exemplo, que está na sala do Senado da República - apontemos a estatua do Duque da Terceira, que executou em 1877, e que domina, pela nobresa e com equilibrio de proporções, a praça de Lisbôa que tem o nome dêsse chefe das campanhas liberais; apontemos «O Saltimbanco», soberba de movimento e de expressão, que foi adquirida pelo rei D. Fernando; «Saudade», que pertenceu a D. Pedro V e que hoje está no Brazil; «Judith» que se encontra no Palácio da Ajuda; a «Puberdade», soberbo estudo do nú, duma perigrina delicadeza e duma adoravel frescura; «D. Inez de Castro». «A Agricultura» e êsse «D. Sebastião lendo os Luziadas», que o Museu de Arte Contemporânea conta entre as melhores obras da sua sala de escultura. Mencionemos ainda - são sessenta e cinco anos duma prestigiosa e honrada vida artistica! - as estatuas de Pedro Alvares Cabral, Vasco da Gama, Infante D. Henrique e Camões, para a sala da biblioteca do Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro, de que a nossa Sociedade de Geografia possui replicas. São ainda do cinzel de Simões de Almeida o maravilhoso Cristo que vela agonisante, no tumulo de Alexandre Herculano, nos Jerónimos; a estatua a José Estevão, que se ergue numa praça de Aveiro; e a da Liberdade, que é um dos melhores trechos do monumento aos Restauradores. A lista é extensa demais para que possamos recordá-la; mas todas essas obras têm a aureolá-las uma admiração muito justa e muito sincera.
O último trabalho do venerando professor foi o medalhão de José Luiz Monteiro, que se encontra na Escola de Belas Artes e que atesta como as mãos do velho artista conservaram por largo tempo um vigor admiravel e o seu espírito uma frescura e uma elegancia dificeis de exceder.
Simões de Almeida, que nasceu em Figueiró dos Vinhos em 1844, era viuvo da srª D. Maria Barbara de Almeida, e tio do ilustre escultor do mesmo apelido e das sr.as D. Adelaide de Almeida Pinto, D. Amalia de Almeida da Assunção e D. Adelina de Almeida Costa.
Os seus restos jasem no cemitério de Benfica e no seu funeral, cheio de modestia e de recolhimento, incorporam-se as maiores notabilidades da Arte Portuguêsa. Pena foi que a Câmara Municipal de Lisbôa, por exemplo se não recordasse do que fazem tantas das suas congeneres estrangeiras, e se honrasse abrigando nas suas salas, por algumas horas os restos mortais de quem foi um notavel estatuario, um professor dedicadíssimo e um honesto cidadão.
Simões de Almeida
Como em outro logar disemos, faleceu Simões de Almeida (Tio) uma gloria nacional que era natural de Figueiró dos Vinhos e tributava grande Amor á nossa terra.
Foi com José Malhôa, dos principais impulsionadores da restauração da Igreja Matriz desta vila, hoje classificada de Monumento Nacional. Aí se pode admirar o modelo do Cristo dos Jerónimos, obra prima e das principais do grande Artista, à qual acresce ainda o valor de ter sido encarnado por José Malhôa.
Está pois de luto a nossa terra, com o falecimento de um dos seus filhos mais ilustres.
E «A Regeneração» em nome de Figueiró dos Vinhos, apresenta á Família de Simões de Almeida, as mais sentidas condolencias, especialisando o grande Artista e poderoso continuador da obra de seu Tio - Simões de Almeida (sobrinho).
Como em outro logar disemos, faleceu Simões de Almeida (Tio) uma gloria nacional que era natural de Figueiró dos Vinhos e tributava grande Amor á nossa terra.
Foi com José Malhôa, dos principais impulsionadores da restauração da Igreja Matriz desta vila, hoje classificada de Monumento Nacional. Aí se pode admirar o modelo do Cristo dos Jerónimos, obra prima e das principais do grande Artista, à qual acresce ainda o valor de ter sido encarnado por José Malhôa.
Está pois de luto a nossa terra, com o falecimento de um dos seus filhos mais ilustres.
E «A Regeneração» em nome de Figueiró dos Vinhos, apresenta á Família de Simões de Almeida, as mais sentidas condolencias, especialisando o grande Artista e poderoso continuador da obra de seu Tio - Simões de Almeida (sobrinho).
Referências:
A REGENERAÇÃO, nº 75, 18 de Dezembro de 1926.
A REGENERAÇÃO, nº 75, 18 de Dezembro de 1926.